
quarta-feira, 28 de março de 2018
VAMOS FALAR SOBRE FASCISMO?
Hoje,
no caminho para o trabalho, discutimos sobre os acontecimentos recentes no
país, mais especificamente sobre os atentados à caravana do Presidente Lula. O
mote da discussão foi o fascismo, que foi um regime autoritário criado na
Itália como movimento político. Suas principais características eram o
cerceamento das liberdades individuais, tendências anticomunistas, antiparlamentares
e autoritárias. Sua transfiguração para a realidade atual pode ser interpretada
como o ato de "não ouvir e não aceitar o outro". Apesar de
transfigurar-se em termos de contexto histórico, as atitudes de um fascista
parecem homogêneas e idênticas àquelas vivenciadas pelos europeus. Na Europa,
já interpretamos a história e tivemos conhecimento dos danos causados por
aquele regime. No Brasil, vemos um aumento exponencial de indivíduos e
tendências voltadas para esse fim. O start
desse processo remonta à 2013, quando tivemos as jornadas de junho, cunhadas
como manifestações dos 20 centavos. Foi um levante de diferentes grupos da sociedade que, mais tarde foi apropriado por grupos de extrema direita
que ganhavam corpo nas redes sociais e materializavam suas ações contra os
governos de esquerda, em São Paulo e no país. Houve a apropriação dos
instrumentos utilizados pelo povo, como as manifestações de rua, por exemplo,
para serem revertidas para os interesses de uma elite que havia perdido espaço frente
aos governos populares deste milênio no país. Como a elite não se manifesta,
então criaram mecanismos, por meio da mídia e das redes sociais, de
"formação" do "gado" que precisava ir para as ruas, que
mais tarde ganharam a denominação de manifestoches. Essas marchas foram
evoluindo, pois o objetivo era tirar o governo eleito e terminar com a jovem
democracia no país, com o intuito de viabilizar os setores ultraconservadores e
distribuir nossas riquezas para o capital estrangeiro, processo que foi
analisado por Csaba Deák como acumulação entravada. Tais manifestações criaram
grupos fascistas, como a propria denominação sugere, o "fascio", que
quer dizer aliança, federação, aqui mais conhecidas como Movimento Brasil Livre
(MBL), Vem pra Rua, entre outros. Logo depois, portanto, as mobilizações foram
ganhando novos nomes, como por exemplo, "não era só pelos 20
centavos", "não vai ter copa", entre muitos outros, tendo como
sustentáculo o discurso contra a corrupção. Em 2014 Dilma Rousseff foi reeleita
presidenta do Brasil e os "rounds" foram aguçados. Um congresso
bloqueado e ultraconservador, conhecido como o pior da história, inviabilizou o
país economicamente e criou a esteira do impedimento, sob acusações que hoje
são realizadas sem nenhum pudor pelo presidente impostor. Se antes pedaladas
eram ilegais, agora tornaram-se legais e com toda a legimidade cunhada por esse
parlamento nefasto. A despeito de um baixo índice de desemprego no final do
primeiro mandato e de métricas que mantinham o país com alguma estabilidade
mesmo diante de um mundo em gangorra, houve uma sincronização das ações da
mídia, do judiciário, do parlamento e dos investidores para colocar-nos na lama
e atribuir culpa à presidenta, o que foi como combustível para que as
manifestações da direita, com apoio da Fiesp e de outros setores contribuíssem
de maneira decisiva para o golpe jurídico-midiático-parlamentar. Os fascistas
estava ganhando corpo com a ascensão de figuras como Bolsonaro, agora cultuado
por essas pessoas como o grande lider,
mito, entre outros adjetivos, capazes de, juntamente com seu discurso,
aproximar-se muito da figura de Hitler quase como simbiose. Seus bajuladores
podiam reverberar seu discurso, que fomenta, dentre outras coisas, a revogação
do plebiscito do desarmamento, a misoginia, o preconceito às minorias, o
racismo, a xenofobia, dentre outras "qualidades". Mesmo com a
democracia golpeada e com seus representantes constituindo o NarcoEstado, viram
na justiça parcial e promíscua a possibilidade de prender o Presidente Lula e
tirar do páreo o único representante dos trabalhadores capaz de reverter esse
lamaçal todo. Como Lula tem voto, retórica, prestígio e uma legião de
seguidores, então a forma encontrada pela mídia e por esses grupos outrora
mencionados era tirá-lo do páreo. Embora acusado há mais de 30 anos por crimes
por todos os veículos de comunicação, as acusações contra Lula são desprovidas
de provas, o que mantém as esperanças da população trabalhadora que almeja
direitos. Por outro lado, todos os representantes desse grupo, elite e
manifestoches, possuem suas células encharcadas de provas e sujeiras, cuja
blindagem da mídia tradicional não mais dá conta de esconder, ainda que tenta.
Logo, o atraso na prisão de Lula e sua caravana pelo Brasil despertou novamente
o levante fascista, que, por saber das fragilidades do julgamento e das possibilidades
de Lula concorrer as eleições (o que significa ganhar as eleições), então
partiram para o ultimo plano: matá-lo. Não aceitam ouvir o outro, não aceitam
as ideias de uma maioria que suplica por direitos, então precisam abatê-lo e não
acham outra saída senão matá-lo. O Sul é o expoente máximo dessa baixaria toda.
Os pseudoeuropeus e pseudointelectuais agora vêem tal possibilidade como real,
apoiada por senadores da República, como o conhecido apoio da Senadora Ana
Amélia. Se antes tacavam pedras e paus, com esse respaldo todo, vão pra bala
mesmo. Enquanto isso, a midia golpista cria um fato de uma entrevista do
Facchin, que ocorreu há mais de mês, pra agora soltar e buscar a indignação de
seus fantoches (ops manifestoches), com apelo para defender o judiciário e,
subliminarmente, chamar a esquerda de violenta, quando a violência e a
truculência são cartões de visita da direita. Vide caso Marielle, em que ela,
assim como tantos líderes da comunidade, foram abatidos nos últimos dois anos,
tentando defender direitos, humanos e sociais. O fascismo, neste caso, muda de "layer":
vão para as vias de fato, com a anuência do Estado e da mídia. Ora, se é
permitido matar; se os valores da família tradicional cristã brasileira permite
matar aqueles que defendem a igualdade de direitos, então estamos à beira de
uma guerra civil, pois o outro lado, ou seja, o lado daqueles que estão só
perdendo direitos, espaços e condições de falar ainda não começou a se mover.
Vimos isso na Primavera Árabe, vimos isso na Síria. Uma vez a máquina ligada e
não mais teremos a possibilidade de desligá-la. As instituições
"funcionando" serão, de uma vez por todas, colocadas em cheque pelo
grupo que sempre as questionou. Enquanto os pregadores da moral e dos bons
costumes estão dando alguns tiros
contra os líderes da esquerda, não se dão conta de que estes
"valores" podem não residir na consciência destes oprimidos, uma vez
que os valores da esquerda são outros. Só pra lembrar, a esquerda lê! Poderia parar por aqui,
pois a direita não lê e quando lê, não entende. São moldados a acreditar na Veja. Mas cabe dizer que a
esquerda lê, e lê Trotsky, Lênin, Marx, Kropotkin, Arendt, dentre muitos
outros. Queremos ficar com Arendt e Marx, na perspectiva de uma sociedade mais
justa. Mas se for preciso evocar Trotsky, estaremos à disposição no front.
Fonte da imagem: https://goo.gl/P4HBv5

Pós-Doutorando pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ); Doutor em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá (PGE-UEM); Pesquisador do Grupo de Estudos Urbanos (GEUR/UEM) e do Observatório das Metrópoles (UFRJ e UEM). Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR); Consultor da UNESCO/MEC; Conselheiro no Conselho Municipal de Planejamento e Gestão Territorial (CMPGT) de Maringá (PR) e Delegado da Assembléia de Planejamento e Gestão Territorial 5 (APGT-5) de Maringá (PR).

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