
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
Relatório da OXFAM "Uma economia para o 1%" é apresentado em DAVOS
A OXFAM trata de questões humanitárias e luta contra a
desigualdade ao incentivar mudanças necessárias para a redução da pobreza e
desigualdade e a promoção da justiça social. Ela produziu um relatório que foi
apresentado em DAVOS e repercutiu mundialmente pelo trabalho, mas sobretudo
pelos dados demonstrados. Uma economia para o 1% ilustra o aumento da
desigualdade no mundo e especifica como o Capitalismo, em seu atual estágio,
beneficia meia dúzia de indivíduos. No Brasil, seis indivíduos concentram mais
capital do que 100 milhões de habitantes juntos. Há a evidente demonstração de
que o mundo passa por um processo ainda maior e mais acelerado de concentração
de riqueza, em que os ricos se tornam cada vez mais ricos e os pobres cada vez
mais pobres, em uma espécie de drenagem de renda "para cima".
Para a entidade, "em diferentes setores da economia
global, empresas e pessoas muitas vezes usam seu poder e posição para garantir
ganhos econômicos para elas próprias. Mudanças ocorridas nas políticas
econômicas nos últimos 30 anos – como as decorrentes da desregulamentação, da
privatização, do sigilo financeiro e da globalização, especialmente do setor
financeiro – potencializaram a velha capacidade dos ricos e poderosos de usar
sua influência para concentrar ainda mais sua riqueza. Essa agenda política tem
sido essencialmente impulsionada pelo que George Soros descreveu como
“fundamentalismo do mercado”. Esse fenômeno constitui, em grande parte, o cerne
da crise de desigualdade dos nossos dias. Sua consequência é que as recompensas
usufruídas por poucos não representam, em muitos casos, retornos eficientes ou
justos".
De modo geral, o capital financeiro ajuda a desencadear esse
processo de concentração, uma vez que há uma especialização cada vez maior de
indivíduos que protegem os donos da riqueza, bem como as aplicações são
direcionadas para fundos e ações, em boa parte das vezes, desvinculadas do
setor produtivo. Além disso, o uso da influência dos mais ricos contribui para
que a apropriação e aumento das fortunas sejam ainda maiores e mais elevados.
Ao ler o documento, percebemos que há um movimento mundial de inflexão dos
programas governamentais que beneficiaram os mais pobres no início do século, o
que também contribui para essas disparidades. No Brasil, por exemplo, de acordo
com o relatório, a classe trabalhadora foi contemplada com o aumento de renda
nas últimas duas décadas, fruto de governos que viabilizaram algumas políticas
para os mais pobres. No entanto, não existiram ações que aproximassem os mais
ricos dos mais pobres, pois, ao passo que os mais pobres saíram da extrema
pobreza, os ricos tornaram-se ainda mais ricos. A altíssima concentração foi
fator decisivo para que houvesse a ruptura democrática e os discursos
pró-capital imperassem de forma alienante e alienada, usando, a partir da
mídia, a parcela mais pobre para defender os mais ricos, em uma espécie de
bizarrice. A disparidade de renda reflete ainda sobre algumas outras grandes
desigualdades que temos que enfrentar, uma vez que, conforme a pesquisa, as mulheres
ganharão como homens só em 2047, e os negros como os brancos em 2089.
O resultado disso é uma ampliação das desigualdades gerais e
o deslocamento de mais indivíduos pelas camadas mais baixas de renda. Na mesma direção, houve a destinação das políticas públicas para beneficiar os mais
ricos do país e, sobretudo, as grandes multinacionais de fora do país,
colocando-nos em uma situação de retrocesso, pois havia algum avanço de
políticas públicas para a população nos últimos anos. Percebemos que há um
movimento mundial nesse sentido, com a utilização dos meios de comunicação de
massa para a alienação da população, pois isso garante a reprodução ampliada do
capital por aqueles que já o detém. Harvey, no livro "17 contradições e o
fim capitalismo" aborda como o Estado legitima e apoia a acumulação por
espoliação: a transformação de direitos coletivos à terra e a outros valores de
uso (moradia, saúde, educação etc.) em propriedade privada, de acesso desigual
e regulado pelo capital em mercados que, muitas vezes, foram criados mediante
violência, corrupção ou legalização do que já foi ilegal. Sua forma atual é o
neoliberalismo, que justifica “tecnicamente” a privatização e a austeridade". O relatório evidencia algumas dessas
contradições que tem como resultante o caos econômico e o sofrimento da maior
parte da população mundial. Além disso, Harvey ilustra teoricamente de forma
coerente o que tem acontecido no mundo e, de forma específica, podemos destacar
o que acontece com o nosso país, em um movimento de inflexão e, consequentemente,
uma guinada ultraliberal, que pode jogar para mais adiante as possibilidades de
igualdade entre mulheres e homens e negros e brancos.
As saídas passam por criar alternativas, pois como disse Rob
Riemen, "a classe dominante nunca será capaz de resolver a crise, pois ela
é a crise". É preciso, em primeira instância, incentivar a população a
deixar de acompanhar os meios tradicionais de telecomunicação que cria a
desgraça cotidiana para manter os indivíduos com a falsa sensação de que estão
isentos. Em outras palavras, o sujeito vê a desgraça alheia e pensa: "pelo
menos não é comigo", ou "pelo menos não aconteceu em meu país,
cidade, bairro...", então tenho que render graças por estar vivo. A
operação das informações e sua disseminação por economistas de mercado tendem a
autoafirmar e tentar justificar as benesses do capital e da viabilização dos
recursos públicos para o mercado, quando sabemos que trabalham ardilosamente
pela economia para o 1%.
Em segundo lugar, como dizia Tomas Pikketty, é necessário
taxar os ricos e fazer com que eles paguem a conta, de modo a amenizar os
verdadeiros assaltos aos trabalhadores. Para isso, é necessário reestabelecer a
democracia, no nosso caso, e, em todos os casos, conduzir ao poder governos que
estejam descolados dessa lógica, ou seja, na contramão do que estamos
assistindo no mundo.
Em terceiro lugar, é necessário criar práticas subversivas e
de resistência, a partir de lutas que possam convencer a população do que de
fato é importante para que possam ter uma vida digna. Isso passa pela erosão da
propriedade privada e a conquista de direitos aos trabalhadores.
Por fim, viabilizar cada vez mais trabalhos como esse, na
incansável luta de usar a ciência para demonstrar as perversidades existentes
nas organizações e instituições, que usam de fundamentalismos a técnicas de ponta para
manutenção do status quo. Nesse caso, além de demonstrar ao mundo
"pra onde estamos indo", é preciso desmistificar e atuar de forma
decisiva sobre questões relacionadas ao combate à fome e à pobreza, combate à
violência, preservação do meio ambiente, entre outros.
O relatório na íntegra pode ser acessado no link (cliqueaqui).

Pós-Doutorando pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ); Doutor em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá (PGE-UEM); Pesquisador do Grupo de Estudos Urbanos (GEUR/UEM) e do Observatório das Metrópoles (UFRJ e UEM). Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR); Consultor da UNESCO/MEC; Conselheiro no Conselho Municipal de Planejamento e Gestão Territorial (CMPGT) de Maringá (PR) e Delegado da Assembléia de Planejamento e Gestão Territorial 5 (APGT-5) de Maringá (PR).

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